A sugestão, ou antes a auto-sugestão, é um assunto
completamente novo e ao mesmo tempo tão antigo quanto o mundo.
É um assunto novo porque, até hoje, foi mal estudado
e, por conseguinte, não muito conhecido; é antigo, por datar da aparição do
homem na terra. De fato, a auto-sugestão é um instrumento que nasce connosco, e este instrumento, ou melhor esta
força, é dotada de um poder inaudito,
incalculável, que, conforme as circunstâncias, produz os melhores ou os piores
efeitos. O conhecimento desta força é útil a cada um de nós e, particularmente,
é indispensável aos médicos, aos magistrados, aos advogados e aos educadores da
mocidade.
Logo que a sabemos pôr em prática, de uma maneira consciente, devemos evitar, em primeiro
lugar, provocar nos outros as auto-sugestões malignas, cujas consequências
podem ser desastrosas; depois provocamos, conscientemente,
as auto-sugestões benignas, que levam a saúde moral aos que sofrem de nevrose,
aos desencaminhados, vítimas inconscientes de auto-sugestões anteriores, e que
conduzem ao bom caminho os espíritos com tendência a seguirem o mal.
O ser consciente e o inconsciente
Para bem compreender os fenómenos da sugestão, ou,
mais acertadamente, da auto-sugestão, é preciso saber que há em nós dois
indivíduos completamente distintos um do outro. Ambos são inteligentes, mas
enquanto um é consciente, o outro é
inconsciente. É a razão pela qual a sua existência, geralmente, passa
despercebida.
Entretanto, esta existência pode ser facilmente
constatada, desde que se tenha o
trabalho de examinar certos fenómenos que sobre eles se queira reflectir bem,
por alguns instantes. Exemplifiquemos:
Todos sabem o que é sonambulismo e que o sonâmbulo
levantando-se à noite, sem estar acordado, sai do quarto depois
de mudar ou não a roupa, desce as escadas, atravessa corredores e, após ter
praticado certos actos ou terminado certo serviço, volta ao seu dormitório e
deita-se novamente. No dia seguinte, demostra a maior das admirações por
encontrar feito um trabalho, que, na véspera, deixara por acabar.
Entretanto, foi ele quem o fez, se bem que o não
saiba. A que força obedeceu o seu corpo, senão a uma força inconsciente, ao seu
ser inconsciente ?
Consideremos, agora, o caso muito frequente, de um
infeliz alcoólico atacado de delirium
tremens. Como que tomado de um acesso de loucura, ele se apodera de uma
arma qualquer, uma faca, um martelo, um machado, e fere, fere furiosamente
aqueles que têm a infelicidade de se lhe acharem perto.
Depois de passado o acesso, o indivíduo recobra os
sentidos e contempla, horrorizado, a cena de sangue que a sua vista oferece,
ignorando ter sido ele mesmo o seu autor. Ainda neste caso, não foi o
inconsciente que conduziu esse desgraçado ?
Se compararmos o ser consciente ao ser inconsciente,
constatamos que, enquanto o consciente é frequentemente dotado de uma memória
muito falha, o inconsciente é, ao contrário, provido de uma memória
maravilhosa, impecável, que guarda, sem o sabermos, os menores acontecimentos,
os mais insignificantes factos de nossas vidas.
E, como é ele quem preside o funcionamento de todos
os nossos órgãos, por intermédio do cérebro, dá-se um facto, que decerto
parecerá paradoxal: se ele julgar que esse ou aquele órgão funciona bem ou mal,
ou julgar que sentimos esta ou aquela
impressão, este ou aquele órgão, de fato, funciona bem ou mal, ou então, nos
sentimos com esta ou aquela impressão.
O inconsciente não preside somente as funções do
nosso organismo, preside também o acabamento de todas as nossas acções, quaisquer que sejam elas.
A ele é que chamamos imaginação, e é quem, ao
contrário do que se admite, nos faz sempre
agir, mesmo e sobretudo contra a
nossa vontade, desde que haja antagonismo entre essas duas forças.
Vontade e imaginação
Se abrirmos um dicionário e procurarmos saber o
significado da palavra vontade,
encontraremos esta definição: “Faculdade de praticar ou não, livremente, algum
ato”. Aceitaremos esta definição como verdadeira, irrepreensível. Mas não pode
haver maior engano, pois esta vontade que reivindicamos com tanta altivez, cede
sempre o passo à imaginação. É uma regra absoluta
que não padece excepção alguma.
“Blasfémia! Paradoxo!” – bradarão. De forma alguma.
“Verdade, pura verdade”, lhes responderei.
E, para se convencerem, abram os olhos, olhem em
torno de si e saibam compreender aquilo que vêem. Hão de ver, então, que o que
lhes digo não é uma teoria aérea, produzida por um cérebro doente, mas a
simples expressão daquilo que realmente é.
Suponhamos que há no solo um tábua de 10 metros de comprimento por 25
centímetros de largura. Está claro que todo mundo é capaz de ir de
uma ponta a outra dessa tábua, sem pôr o pé fora
dela. Mudemos porém, as condições da experiência e façamos de conta que essa
tábua está colocada à altura das torres de uma catedral. Quem terá, então a
coragem de avançar um metro apenas, nessa estreita passagem ? São os senhores
que me lêem ? Não, sem dúvida. Antes de derem dois passos, começarão a tremer
e, apesar de todos os esforços de vontade,
fatalmente cairão ao solo.
Observem que os senhores têm boa-vontade de avançar; se imaginam
que o não podem, ficam na
impossibilidade absoluta de fazê-lo.
Se os pedreiros, os carpinteiros são capazes de
executar esse ato, é porque eles imaginam que o podem fazer.
A vertigem só é causada pela imagem que se nos afigura
de que vamos cair; essa imagem se transforma imediatamente em ato, apesar de todos os nossos esforços de
vontade, tanto mais depressa quanto mais violentos são esse esforços.
Consideremos uma pessoa atacada de insónia. Se ela
não faz esforços para dormir, ficará sossegada no leito. Se, ao contrário, quer dormir, quanto mais se esforça mais
agitada fica.
Não sei se observaram que, quanto mais a gente
procura se lembrar do nome de uma pessoa, que se julga ter esquecido, mais ele
foge à lembrança, até o momento em que, mudando-se no espírito a ideia de “não
me lembro” pela de “já me lembro”, o nome nos vem naturalmente sem o menor
esforço.
Aqueles que andam de bicicleta se recordam de que,
quando aprendiam a andar nessa máquina, iam pela estrada, segurando-se no
guidão, na persuasão de que iriam cair. De repente, enxergando no meio do
caminho um cavalo ou, mesmo simplesmente uma pedra, procuravam evitar o
obstáculo; porém, quanto mais esforços faziam, mais iam em direcção a ele.
A quem não aconteceu dar uma gargalhada, uma risada
que estalava tanto mais impetuosamente
quanto maiores eram os esforços que faziam para a conter ?
Qual era o estado de espírito de cada um, nestas
várias circunstâncias ? Eu não quero
cair, mas não posso impedi-lo; quero dormir, mas não posso; quero lembrar o nome da senhora Tal,
mas não posso; quero evitar o obstáculo, mas não
posso; quero conter a minha
risada, mas não posso.
Como se vê, em cada um desses conflitos é sempre a imaginação que sobrepuja a vontade, sem excepção alguma.
Seguindo a mesma ordem de ideias, não vemos um
comandante que se precipita para diante, à frente das suas tropas, e os seus
subordinados acompanhá-lo, ao passo que o grito: “salve-se quem puder”
determina, quase fatalmente, uma derrota ? Por que ? Por isto que, no primeiro
caso, os homens se persuadem de que devem marchar para a frente, e, no segundo,
supõem que estão vencidos e que é
preciso fugir para escapar à morte.
Panurge não ignorava o contágio do exemplo, isto é, a acção da imaginação, quando, para
vingar-se de um negociante com quem viajava, comprava o seu maior carneiro e o
atirava ao mar, convencido, de antemão, de que a carneirada toda o
acompanharia, o que, aliás, aconteceu.
Nós, homens, parecemo-nos mais ou menos com os dessa
raça lanígera e, a contragosto, seguimos irresistivelmente o exemplo alheio pensando que não podemos fazer de outro
modo.
Poderia citar outros mil exemplos, mas receio que uma
enumeração dessa ordem se torne enfadonha. Entretanto, não posso deixar em
silêncio um fato que põe em evidência o poder enorme da imaginação, ou por
outra, do inconsciente na sua luta
contra a vontade.
Há ébrios que bem quereriam não mais beber, mas não
podem abster-se da bebida alcoólica. Indaguem deles, e responderão, com toda a
sinceridade, que desejariam ser abstémios, que lhes aborrece a bebida, mas que
são irresistivelmente impelidos a beber, apesar de sua vontade, apesar de saberem o mal que isso lhes faz...
Assim, também, certos criminosos cometem crimes, contra a vontade, e quando se pergunta
por que agiram dessa maneira, respondem:
“Não pude conter-me, aquilo me dava
ímpetos, era mais forte do que eu”.
O ébrio e o criminoso dizem a verdade; eles são
forçados a fazer o que fazem, pela simples razão de cuidarem que não se podem
conter.
Destarte, nós que somos orgulhosos da nossa vontade,
que acreditamos fazer, livremente, aquilo que fazemos, não passamos, na
realidade de pobres bonecos, dos quais a nossa imaginação empunha todos os
fios. Não deixaremos de ser esses bonecos, enquanto não a soubermos dirigir.
Sugestão e auto-sugestão
De acordo com o que precede, pudemos comparar a
imaginação a uma correnteza que arrasta, fatalmente, o desgraçado que se deixa
apanhar por ela, malgrado sua vontade de alcançar a margem. Esta correnteza
parece invencível; todavia a pessoa sabendo fazê-lo, a desviará do seu curso,
conduzi-la-á a uma usina e aí transformará a sua força em movimento, em calor,
em electricidade.
Se esta comparação não lhes parece suficiente,
comparemos a imaginação a um cavalo selvagem que não tem cabresto, nem rédea.
Que pode fazer o cavaleiro que o monta, senão deixar-se levar aonde o cavalo o
quiser conduzir ? E, se o cavalo se enfurece, como muitas vezes sucede, é num
fosso que vai terminar a corrida. Se o cavaleiro põe a rédea nesse cavalo, os
papéis mudam. Não é mais ele que vai aonde o cavalo quer, e sim o cavalo que
segue o caminho que o cavaleiro deseja.
Agora, que já explicamos a força enorme do ser
inconsciente ou imaginativo, vou lhes mostrar que este ser, considerado como
indomável, pode ser tão facilmente domado quanto uma correnteza ou um cavalo
selvagem.
Mas, antes de prosseguir , é necessário definir,
cuidadosamente, duas palavras frequentemente empregadas
sem que
sejam bem compreendidas. São as palavras sugestão e auto-sugestão.
O que é, então, a sugestão ? Pode-se defini-la: “a acção de impor uma ideia ao
cérebro de outra pessoa”. Esta acção existe, realmente ? Propriamente falando,
não. A sugestão, com efeito, por si mesma, não existe, ela não existe e não
pode existir senão sob a condição sine
qua non de se transformar, no indivíduo, em auto-sugestão. E esta palavra
assim se define: “implantação de uma ideia em si mesmo por si mesmo”. Podem
sugerir alguma coisa a alguém; se o inconsciente deste não aceitou esta
sugestão, se ele não a digeriu, por assim dizer, a fim de transformá-la, em auto-sugestão, ela não produz nenhum
efeito.
Acontece-me, algumas vezes, sugerir qualquer coisa
mais ou menos banal a pessoas ordinariamente muito obedientes, e minha sugestão
falhar. A razão disto é que o inconsciente dessas pessoas se recusaram a
aceitar a minha sugestão e não a
transformaram em auto-sugestão.
Emprego da auto-sugestão
Volto ao ponto onde dizia que podemos domar e dirigir
a nossa imaginação, como se doma uma correnteza ou um cavalo bravo. Para tal,
basta saber, primeiramente, que isso é possível (o que quase todo mundo
ignora), e, em seguida, conhecer o meio. Pois bem, esse meio é muito simples; é
aquele que sem o querermos , sem o sabermos, de maneira absolutamente
inconsciente de nossa parte, empregamos todos os dias desde que viemos ao
mundo, mas que, infelizmente para nós, empregamos quase sempre mal, para nosso
maior dano. Este meio é a auto-sugestão.
Enquanto, habitualmente, a gente se auto-sugestiona
inconscientemente, seria bastante auto-sugestionar-se conscientemente, cujo
processo consiste nisto: “primeiro meditar convenientemente sobre as coisas que
devem ser o objecto da auto-sugestão e, conforme esta responda sim ou não,
repetir muitas vezes, sem pensar noutra coisa: “Isto acontece ou isto não
acontece; isto vai ser ou isto não vai ser etc., etc., e, se o inconsciente
aceita esta sugestão, se ele se auto-sugestiona, veremos nisso as coisas se
realizarem ponto por ponto.
Assim entendida, a auto-sugestão não é outra coisa senão o hipnotismo tal como o
compreendo e o defino por estas simples palavras:
influência sobre o ser moral e o
ser físico do homem.
Ora, esta acção é inegável e, sem voltar aos exemplos
precedentes, citarei ainda alguns outros.
Se alguém se persuadir de que pode fazer alguma coisa
qualquer, contanto que ela seja possível,
esse alguém a fará ainda que seja difícil fazê-la. Se, ao contrário, as pessoas
crêem que não podem fazer a coisa
mais simples do mundo, torna-se para elas impossível fazê-la, e, nesta ordem,
os montinhos de areia que as toupeiras erguem são, para essas pessoas, como
intransponíveis montanhas.
no pântano, tanto mais depressa quanto maiores são os
esforços que faz para se salvar.
Do mesmo modo, basta pensar que uma dor vai passar,
para sentir que realmente esta dor desaparece, pouco a pouco, e, inversamente,
é bastante pensar que se sofre para que imediatamente se sinta chegar o
sofrimento.
Conheço certas pessoas que prognosticam que,
determinado dia, vão sentir dor de cabeça, predizendo em que circunstâncias, e,
de fato, no dia assinalado, circunstâncias anunciadas, sentem essa dor de
cabeça. Essas pessoas mesmas causam o seu mal, assim como outras se curam a si
próprias pela auto-sugestão consciente.
Sei que, geralmente, a gente passa por louco, diante
de pessoas, quando se ousa emitir ideias que não estão habituadas a ouvir. Pois
bem, arriscando-me a passar por louco,
dir-lhes-ei que, se certas pessoas são,
moral e fisicamente, doentes, é porque imaginam estar doentes, seja moralmente, seja fisicamente; se algumas
pessoas são paralíticas, sem terem lesão alguma, é que imaginam estar paralíticas, e é entre estas pessoas que se dão as
curas mais extraordinárias.
Se alguns são felizes ou infelizes, é porque imaginam ser felizes ou infelizes,
porquanto entre duas pessoas colocadas exactamente nas mesmas condições, uma
pode se julgar perfeitamente feliz e
a outra absolutamente infeliz.
A neurastenia, a gagueira, as fobias, a cleptomania,
certas paralisias etc., não são outra coisa senão o resultado da acção do inconsciente sobre o ser físico ou
moral.
Mas, se o nosso inconsciente
é a fonte de muitos de nossos males, também pode trazer a cura das nossas
doenças morais e físicas. Ele pode, não somente reparar o mal que nos fez, como
também curar as doenças reais, tão grande é a sua acção sobre o nosso
organismo.
Isole-se uma pessoa em um quarto, sente-se numa
poltrona, feche os olhos para evitar distracção e pense unicamente durante
alguns instantes: “Tal coisa está para desaparecer”, “tal coisa vai acontecer”.
Se, foi, realmente, feita a auto-sugestão, isto é, se seu inconsciente
aceitou a sua ideia, com grande admiração sua verá realizar-se aquilo em que
havia pensado. (Note-se que as ideias auto-sugestionadas têm a propriedade
de existir em nós sem o sabermos, de cuja existência
só podemos ter conhecimento pelos efeitos que essas ideias produzem). Mas,
sobretudo, e esta recomendação é essencial, a vontade não deve intervir na
prática da auto-sugestão; porque, se ela não está de acordo com a imaginação,
se a gente pensa: “quero que tal coisa aconteça”, e a imaginação diz: “tu
queres, mas isso não sucederá”, não somente não se consegue o que se quer, mas
ainda se obtém exactamente o contrário.
Esta observação é capital, e explica por que os
resultados são tão pouco satisfatórios quando, no tratamento das afecções morais, se fazem esforços para reeducar a vontade. É a imaginação que é preciso educar, pois,
graças à delicada divergência entre esta e aquela, o meu método teve sucesso
onde outros, e não poucos, fracassaram.
Das numerosas experiências que faço, diariamente,
desde vinte anos, observadas por mim,
com atencioso cuidado, pude tirar as condições que se seguem e que resumi em
forma de lei:
1.º - Quando a vontade e a imaginação estão em luta, é sempre a
imaginação a vencedora, sem excepção
alguma; 2.º - No conflito entre a
vontade e a imaginação, a força da imaginação está na razão directa do quadrado da vontade; 3.º - Quando a vontade e a
imaginação estão de acordo, uma não se ajusta à outra, mas uma se multiplica
pela outra;
4.º -
A imaginação pode ser governada.
(As expressões “na razão directa do quadrado da
vontade” e “se multiplicam” não são rigorosamente exactas. São simplesmente
imagens destinadas a fazer compreender o meu pensamento.)
Consoante o que acabo de dizer, parece que ninguém
deveria jamais ter adoecido. Isto é verdade. Toda doença, quase sem excepção, pode ceder à auto-sugestão, por mais
ousada e inverossímil que possa parecer a minha afirmação. Não digo, cede sempre, digo pode ceder, o que é diferente.
Mas para fazer com que as pessoas pratiquem a auto-sugestão consciente, é preciso
ensinar-lhes como fazê-lo, do mesmo modo que se faz para lhes ensinar a ler ou
escrever, ou para que elas aprendam música etc.
A auto-sugestão é, como disse
mais atrás, um instrumento que trazemos connosco ao nascer e com o qual
brincamos inconscientemente toda a nossa vida, como um menino brinca com seu
maracá. Mas é um
instrumento perigoso; pode ferir, matar mesmo, se o
manejarem imprudentemente, inconscientemente. Ao contrário, salva quando o
souberem empregar de maneira consciente.
Pode-se dizer dele o que da língua dizia Esopo: “É a melhor e, ao mesmo tempo,
a pior coisa do mundo”.
Vou explicar-lhes, agora, como se pode fazer para que
todo mundo experimente a acção benfazeja
da auto-sugestão, aplicada de um modo
consciente.
Dizendo “todo mundo”, exagero um pouco, porque há
duas classes de pessoas nas quais é difícil provocar a auto-sugestão
consciente:
1.º - Os atrasados, incapazes de
compreender o se lhes diz;
2.º - As pessoas que não querem
aprender.
Como ensinar
ao paciente a autosugestionar-se
O princípio deste método se resume, pouco mais ou
menos, nestas palavras: Só se pode pensar
em uma coisa de cada vez, isto é, duas ideias podem se justapor, mas não se
podem sobrepor em nosso espírito.
Todo pensamento que preocupa
inteiramente o nosso espirito, torna-se verdadeiro para nós e possui uma
tendência para transformar-se em ato.
Portanto, se conseguirmos fazer crer a um doente que
vai acabar seu sofrimento, este de fato desaparecerá; a um cleptómano que não
furtará mais, ele não mais furtará, etc.
Modo de fazer a sugestão consciente
bem direito, que todas as palavras que vou pronunciar
vão fixar-se no seu cérebro, imprimir-se, gravar-se, incrustar-se nele; que é
preciso que elas fiquem sempre fixadas, impressas, incrustadas e que, sem o
senhor querer e sem o saber, de uma maneira completamente inconsciente de sua
parte, o seu organismo e o senhor mesmo deverão obedecer-lhes. Digo-lhe, em
primeiro lugar, que diariamente, três vezes por dia, de manhã, ao meio dia e à
noite, à hora das refeições, o senhor terá fome, isto é, sentirá esta sensação
agradável que faz pensar e dizer: “Oh!
Vou comer com prazer!” Com efeito, comerá com prazer, sem, entretanto, comer
demais. Comerá moderadamente e o suficiente para deixá-lo no peso ideal. Terá,
porém, cuidado de mastigar demoradamente os seus alimentos, para os transformar
em uma pasta bem mole, antes de engolir. Nestas condições, fará bem a digestão,
e não sentirá nem no estômago, nem nos intestinos, nenhum sofrimento, nenhum
incómodo e dor nenhuma, qualquer que seja a sua natureza. A assimilação se fará
bem e o seu organismo aproveitará todos os seus alimentos, para produzir
sangue, músculo, força, energia, numa palavra: VIDA.
“Visto que a digestão vai ser bem feita, a função da
excreção darse-á normalmente.
“Ademais,
todas as noites, a partir do momento em
que quiser dormir, até ao momento em que desejar levantar-se, na manhã
seguinte, dormirá um sono profundo, calmo, tranquilo, durante o qual não terá
pesadelos, e quando acordar, sentir-se-á
com saúde, todo alegre e bem disposto.
“De outro lado, se lhe acontece, por vezes, estar
triste, pensativo, ter aborrecimentos, ter pensamentos tétricos, de agora em
diante não acontecerá mais. Em vez de ficar triste, melancólico, em vez de ter
angústias, aborrecimentos, ideias tristes, vai ter alegria, muita alegria, sem
motivo algum, talvez, mas ter-la-á, como lhe poderia acontecer ter tristezas
sem motivos. Direi mais: mesmo que tenha motivos verdadeiros, motivos reais
para se aborrecer e ter tristezas, não se aborrecerá, nem terá tristezas.
“Se lhe acontece, às vezes, ter gestos de
impaciência, ou de raiva, estes gestos não os terá mais. Ao contrário, há de
ser sempre paciente, sempre senhor de si
mesmo, e as coisas que o aborreciam, provocavam, irritavam, doravante o
deixarão absolutamente indiferente e calmo, muito calmo. Se algumas vezes é assaltado, perseguido, dominado por ideias más, que lhe
são prejudiciais, e por temores, medos, fobias, tentações, rancores, sei que
tudo isso se afasta, pouco a pouco dos
olhos da sua imaginação, e parece desfazer-se, perder-se numa nuvem longínqua.
Como um sonho que desaparece ao acordar, assim se irão todas as imagens vãs.
“Digo-lhe mais que todos os seus órgãos funcionam
bem: o coração bate normalmente e a circulação do sangue se faz como deve ser;
os pulmões funcionam bem; o estômago, os
intestinos, o fígado, a vesícula biliar, os rins, a bexiga, nada têm de
anormal. Se, dentre eles, algum presentemente funciona com anormalidade, esta
anomalia desaparecerá aos poucos, cada dia, de sorte que, brevemente,
desaparecerá por completo, voltando esse órgão a funcionar normalmente.
“Além disso, se existe alguma lesão num deles, irá
cicatrizando dia a dia, sarando com rapidez.” (A propósito, devo dizer que não
é preciso saber qual o órgão afectado, para curá-lo. Sob a influência da
autosugestão: “todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez
melhor”, o Inconsciente exerce a sua acção sobre esse órgão, que ele mesmo não
sabe distinguir).
“Acrescento ainda isto, que é uma coisa extremamente
importante: se até o presente se sentiu com uma certa desconfiança em si,
digo-lhe que esta desconfiança desaparece aos poucos para, ao contrário, se
transformar em confiança em si mesmo, fundada
nesta força de um poder incalculável que existe em cada um de nós. Esta
confiança é absolutamente indispensável ao ser humano. Sem a confiança em
si mesmo, jamais se obtém coisa alguma, ao passo que com ela, pode-se
conseguir tudo. (No domínio das coisas
razoáveis, bem entendido). Tenha, pois, confiança em si mesmo, que se convencerá
de que é capaz de fazer não somente bem, mas ainda com perfeição, todas as
coisas que deseja fazer, sob a condição
de que sejam razoáveis e também tudo aquilo que seja de seu dever.
existem em nossa língua. Existem, sim, as palavras: é fácil e eu posso. Considerando a coisa fácil de fazer, ela
se torna fácil, ao passo que para outros parece difícil. O senhor a faz
depressa e bem, sem se cansar, porque a faz sem esforço. Se, porém, a
considerasse difícil ou impossível de fazer, ela o seria unicamente porque
assim a considerou”
“Por fim, sei que tanto no ponto de vista moral como
no físico, o senhor goza de boa saúde, melhor do que a que até hoje pôde gozar.
Agora vou contar até “três”, e quando eu disser “três” , o senhor abrirá os
olhos, saindo do estado em que se encontra, bem tranquilamente, sem
entorpecimentos, sem fadigas de espécie alguma, mas, ao contrário, sentindo-se
forte, alerta, disposto, com vigor, cheio de vida. Além disso, sentir-se-á
alegre, bem alegre e bem de saúde em todos os pontos de vista. Um, dois,
três”.
Como se deve praticar a auto-sugestão consciente
Todas as manhãs, ao acordar, e todas as noites, logo
ao deitar, fechar os olhos e, sem fixar a
atenção ao que se diz, proferir em voz bastante alta, a fim de ouvir as próprias palavras , esta frase,
repetindo-a vinte vezes, tendo para isso um cordão com vinte nós: “Todos os dias, sob todos os pontos de
vista, vou cada vez melhor”. Como as palavras “ sob todos os pontos de vista” abrange tudo, é inútil fazer
auto-sugestão para determinados casos.
Esta auto-sugestão deve ser feita da maneira mais simples, mais infantil, mais maquinal
possível, portanto, sem o menor esforço.
Numa palavra, a fórmula deve ser repetida no tom em que se rezam as ladainhas.
Destarte, consegue-se introduzi-la mecanicamente no inconsciente, pelo
ouvido e, logo que nele penetra, ela age. A pessoa deve seguir esse método durante toda vida, porquanto é não só curativo
como também preventivo.
Portanto, é fácil desempenhar o papel de sugestionador.
Não será um mestre que ordena, mas um amigo, um guia que conduz, passo a passo,
o enfermo no caminho da cura. Como todas essas sugestões se dão no interesse do
doente o inconsciente deste as procura assimilar e transformálas em
auto-sugestões. Quando se dá a auto-sugestão, a cura se realiza com mais ou menos rapidez.
A prática da auto-sugestão não
dispensa o tratamento médico, mas é um precioso auxiliar para o doente e para o
médico.
Superioridade do método
Este método dá, absolutamente, maravilhosos
resultados. Efectivamente, procedendo-se como aconselho, não se falhará nunca,
a não ser com as espécies de pessoas que falei atrás e que, felizmente,
representam apenas 3% do povo.
Se, ao contrário, se experimenta agir da primeira vez
sobre o paciente, sem explicações, poder-se-á obter resultado, mas somente
sobre pessoas extremamente sensíveis. Estas, porém, existem em pequeno número.
Outrora, parecendo-me que a sugestão não podia agir
bem , senão durante o sono, procurava sempre fazer dormir o meu paciente; mas,
tendo constatado que isto era dispensável deixei de fazê-lo para poupar ao
paciente o temor que sente, quase sempre, quando lhe dizemos que o vamos fazer
dormir, temor este que, muitas vezes, sem que ele o queira, faz resistir ao
sono. Se, ao contrário, lhe dissermos que não queremos fazêlo adormecer, porque
isso é absolutamente inútil, ganhamo-lhe a confiança e ele houve o que lhe
dizemos, sem receio algum, sem nenhuma segunda intenção, acontecendo,
frequentemente, quando não à primeira vez, pelo monótono da voz, ficar cheio de
admiração por ter adormecido.
Se entre os senhores há incrédulos, e sei que os há,
dir-lhes-ei, simplesmente, que venham ter comigo para verem e se convencerem, à
vista dos fatos.
Não pensem, entretanto, que seja necessário agir da
maneira que acabo de expor, para empregar
a sugestão e determinar a auto-sugestão. Pode-se fazer a sugestão em
pessoas sem elas o saberem, e sem preparação alguma. Se um médico, por exemplo,
que, pela sua autoridade profissional, já tem força sugestiva sobre o doente,
lhe diz que nada pode fazer por ele, porque a sua moléstia é incurável, provoca
no espirito do paciente uma auto-sugestão que lhe poderá ter consequências bem
funestas. Se, ao contrário, lhe diz que a doença é realmente grave, mas que com
tratamento, tempo e paciência virá a cura, algumas ou muitas vezes mesmo,
poderá conseguir resultados que lhe causarão admiração.
Outro exemplo: se um médico, depois de haver
examinado o doente, passa-lhe uma receita e lhe entrega sem explicação alguma,
os remédios prescritos têm pouca probabilidade de produzir efeito. Mas, se
explica ao doente se este ou aquele remédio deve ser tomado em tais e tais
condições e que produzirão tais e tais efeitos, quase sempre se verificam os
resultados preditos.
Se, entre os que me lêem, há médicos ou colegas
farmacêuticos, peço que não me julguem seu inimigo, pois, ao contrário, sou seu
melhor amigo. De uma parte, desejaria ver no programa das Escolas de Medicina,
o estudo teórico e prático da sugestão, para maior benefício dos doentes e dos
próprios médicos; de outra parte, espero que, cada vez que um doente vá
procurar um médico, este lhe receite um ou mais remédios, mesmo que não sejam
necessários. Com efeito, o doente, quando procura o médico, quer que ele lhe
indique o remédio que o porá bom. Ignora, as mais das vezes, que é a higiene e
o regime que atuam e a isto liga pouca importância. O que lhe é necessário é um
remédio.
Parece-me, portanto, que o médico deve sempre
receitar remédios ao seu enfermo e, quando possível, evitar as receitas de
remédios especializados, dos quais se fazem grandes reclamos, e que, na maior
parte, só valem pelo efeito da propaganda. Mas, deve receitar remédios
formulados por ele mesmo, porque inspiram muito mais confiança ao doente do que
certas pílulas ou certos pós facilmente encontrados em todas as farmácias e que
dispensam receita.
Acção da sugestão
Para bem se compreender o papel da sugestão ou, por
outra, da auto-sugestão, basta saber que o inconsciente
é o “dirigente mor de todas as nossas funções”. Façamo-lhe crer, como
anteriormente disse, que tal órgão que não funciona bem, deve funcionar bem.
Instantaneamente o inconsciente lhe
ordena e o órgão, obedecendo submissamente, inicia a recuperação de sua função
normal, imediatamente.
Isto nos dá o direito de explicar, de uma maneira
simples e clara como, pela sugestão, pode-se suster as hemorragias, debelar a
prisão de ventre, extinguir os fibromas, curar as paralisias, as lesões
tuberculosas, as feridas varicosas etc.
Tomo, como exemplo, um caso de hemorragia dentária,
que pude observar no gabinete do Sr. Gauthé, dentista, de Troyes. Uma mocinha,
a quem ajudei a curar-se de uma asma que
lhe durou oito anos, me disse um dia que queria extrair um dente. Sabendo-a
muito sensível, ofereci-me para mandar arrancar o dente, sem dor. Naturalmente,
ela aceitou com prazer, e marcamos a hora com o dentista.
No dia combinado, fomos ao seu gabinete. Colocando-me
em frente à moça, disse-lhe: “A senhorita não sente nada, a senhorita não sente
nada etc. ...”. E, enquanto continuava a minha sugestão, fiz sinal ao dentista.
Um momento depois, o dente estava arrancado sem que a senhorita D... tivesse
sentido qualquer dor. Como frequentemente acontece, sobreveio uma hemorragia.
Ao invés de aplicar um hemostático qualquer, disse ao dentista que iria
experimentar a sugestão, sem saber de antemão o que resultaria. Então, pedi à
senhorita D... que me olhasse e sugeri-lhe que, dentro de dois minutos, a
hemorragia cederia, por si mesma; e ficamos aguardando o resultado. A jovem
expeliu ainda alguns escarros sanguíneos e mais nada. Disse-lhe que abrisse a
boca, olhamos e constatamos que o sangue coagulara na cavidade dentária.
Como explicar este fenómeno? Muito simplesmente: sob
a influência da ideia “a hemorragia deve parar”, o inconsciente transmitiu, às
pequenas artérias e pequenas veias, ordem para não deixar escapar sangue, e
elas, com brandura, se foram contraindo naturalmente,
como o fariam artificialmente, ao contacto de um hemostático, como por exemplo
a adrenalina.
É raciocinando do mesmo modo, que nos é dado compreender como pode
desaparecer um fibroma. O inconsciente, aceitando a ideia “ o fibroma
deve desaparecer”, o cérebro ordena às artérias
que o nutrem, que se contraiam; elas se contraem, recusam o seu auxílio, não
alimentam mais o fibroma e este, privado daquele alimento, morre, seca,
reabsorve-se e desaparece.
Emprego da auto-sugestão na cura das afecções
morais e das taras inatas ou
adquiridas
A neurastenia, tão comum nos nossos dias, geralmente
cede à sugestão praticada, frequentemente, do modo como exponho. Tive a
felicidade de contribuir para a cura de numerosos neurasténicos, para os quais
falharam todos os tratamentos. Um deles até passara um mês num estabelecimento
especial de Luxemburgo, sem conseguir melhorar. Em seis semanas, ficou
completamente bom e sente-se, agora, o homem mais feliz do mundo, após ter se
considerado o mais desgraçado. E nunca mais recairá na sua moléstia, porque lhe
ensinei a aplicar, a si próprio a autosugestão consciente, e ele a sabe fazer
maravilhosamente.
Mas, se a auto-sugestão é útil no tratamento das
afecções morais e físicas, quantos serviços ainda maiores não podem prestar à
sociedade, transformando em pessoas honestas as infelizes crianças que povoam
as casas de correcção e que de lá saem para entrar na vastidão do crime?
Não me digam que isto é impossível. É possível e
posso fornecelhes a prova.
O que digo
Já expliquei a minha teoria da
auto-sugestão consciente e também a aplicação do meu método. Com certeza, as
minhas explicações foram claras, porquanto muitas pessoas, somente com a
leitura dessa brochura, conseguiram curar-se de moléstias, muitas vezes graves,
de que não puderam melhorar fazendo outro qualquer tratamento.
Entretanto, para me fazer melhor
compreender, resolvi apresentar minhas ideias de outra forma, ainda mais clara.
Foi por isso que reuni, nesta Parte, tudo o que disse no curso das minhas
conferências, dando as razões que me levaram a aconselhar a prática da
auto-sugestão, da maneira como indico.
Ademais, as considerações que faço
sobre o inconsciente permitem a fácil compreensão do mecanismo pelo qual ele
atinge os seus fins.
Os homens foram sempre, em todos os tempos, amantes
das coisas misteriosas e sobrenaturais. Quando assistem a um fato, com o qual
não estão familiarizados, e não o compreendem, atribuem-no logo a uma causa
sobrenatural, até o momento em que descobrem a lei que o determinou. Houve, e
ainda há, desde os tempos mais remotos,
pessoas que curavam, ou antes, pseudo-médicos que, por meio de gestos e
imposições das mãos, com palavras e cerimónias mais ou menos impressionantes,
muitas vezes conseguiam curas instantâneas, causando aos assistentes uma
espécie de admiração entusiástica ou temerosa, porque tais fatos, para certas
pessoas, eram obras do Espírito maligno.
Na Grécia antiga, enfermos costurados dentro duma
pele de animal recém-morto, passavam a noite nos degraus do templo de Atenéia
e, muitas vezes amanheciam curados.
Com a imposição das mãos, apenas, os reis de França
faziam desaparecer as escrófulas. A celha de Mesmer extinguia os males daqueles
que seguravam uma das correntes nela mergulhada; e o zuavo Jacó obtinha
resultados inegáveis, com a suposta projecção do seu fluido. Actualmente, as
associações Christian Science e Novo Pensamento têm conseguido resultados idênticos,
pelos processos magnéticos, pelo hipnotismo etc.
Essas curas, para a maioria das pessoas, são cheias
de mistérios, e derivam de uma força particular da qual são dotados aqueles que
as operam, quando as devemos atribuir a uma força inteiramente natural,
obedecendo a leis, de que mais adiante trataremos.
Não quero que me tomem, como muita vezes acontece,
por uma pessoa que cura doentes, um operador de milagres, que tem à sua
disposição todas as forças ocultas e tudo pode, mesmo e principalmente o
impossível.
Para vos dar apenas uma ideia do juízo que de mim
fazem certas pessoas, citar-vos-ei alguns pedidos, que me são feitos com muita
frequência.
Certa ocasião, escreveu-me uma senhora, dizendo:
“Senhor, meu marido não pode mais suportar-me. Poderia o senhor conseguir
torná-lo mais paciente ?” Outra me escreveu o seguinte: “Senhor, meu filho
arranjou uma amizade má. Poderia o senhor descobrir um meio de desfazêla ?” Uma
terceira dirigiu-me uma carta, nestes termos imperativos:
“Senhor , estou doente, curai-me!
(sem assinatura)”.
Outra, ainda, comunica-me haver uma sua vizinha
rogado praga sobre a sua casa, e me pede para conjurar essa maldição. Enfim,
diz-me a última: “Meu senhorio quer aumentar o aluguel. Poderia o senhor
impedilo ?”
Pois bem, se, dentre vós, alguns me querem dar a
honra de considerar-me capaz de realizar coisas tais como essas que me foram
solicitadas, rogo-vos que abandonem tal suposição, por ser inteiramente falsa.
Não somente não curo, nem faço milagres, como também não sou feiticeiro, nem
tenho o poder especial de que me supõem dotado.
Sou, apenas, um homem, se o quiserem um homem capaz,
mas um homem como os outros homens, cuja função não é de curar, mas,
simplesmente, a de ensinar às pessoas o que elas podem fazer, a fim de se
ajudarem a si próprias, a fim de elas mesmas, conseguirem suas melhorias e se
curarem por si mesmas, se a cura for possível.
Lavo as mãos, quanto aos resultados que possam obter.
O benefício do sucesso, assim como a responsabilidade do insucesso, fica a
cargo dessas pessoas, porquanto um e outro dependem, exclusivamente, delas.
Devo ser comparado ao professor que ensina aos seus alunos as matérias
necessárias para se submeterem ao exame, que lhes permitirão obter o grau de
bacharel, mas que não poderá fazer por eles esse exame.
Por dois motivos deveis acreditar no que vos digo: O
primeiro é que vos falo a verdade; o segundo é que o vosso interesse exige que
me acrediteis.
Iorque, a Chicago, não poderei ter mais essa
influência. Se adoecerdes, então, sentir-vos-eis perdidos.
De minha parte, diminuo a vossa personalidade, deixo
crer que dependeis de mim e não de vós mesmos.
Se, ao contrário, vos demonstro que o poder que me
atribuis não está em mim, mas em vós, e vos ensino como aproveitá-lo, tereis a
possibilidade de utilizá-lo e de conseguir, vós mesmos, a melhoria ou a cura,
em qualquer parte do mundo, onde vos encontrardes.
Nesse caso, aumento a vossa personalidade, visto que
vos ensino a depender de vós mesmos, e não de uma outra pessoa.
Contudo, não me acreditais ainda.
A maioria de vós responder-me-á. “É inútil insistir.
É graças à vossa influência que nós nos curamos”. Como acontece, então, que me
venham, às mãos, quase todos os dias, cartas de pessoas, que nunca vi,
agradecendo-me por se terem curado somente em observar os conselhos que dou. Melhor será saber o que elas dizem:
Primeira carta:
— Tive a grande felicidade de receber a vossa carta de 13 de maio, e as
brochuras que a acompanharam, as quais achei muito interessantes.
Há cerca de quarenta anos, um médico aconselhou-me a
mandarme operar as varizes da perna ou, pelo menos, usar meias elásticas. Desde
há seis meses, entretanto, que ponho em prática o vosso método, e noto que elas
já desapareceram. Considerando-se os meus setenta anos de idade, esse resultado
não é mau.
É verdade que, quando comecei a pôr em prática os
vossos conselhos, não contava com esse efeito. Ademais, sinto-me capaz de jogar
as minhas duas partidas de golfe,
diariamente.
W. J. ..., Sydney (Austrália)
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